Caros leitores do Blog >Evolução Tecnológic@_ – www.evolucaotecnologica.com.br, a história desse computador é INCRÍVEL. Vou tentar sintetizar, mas ainda farei um artigo mais completo e com os devidos ajustes para publicação aqui no blog.
O Unitron Mac 512 abalou as relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos na segunda metade da década de 1980, inclusive foi um dos estopins para a aprovação da Lei 7.646/87 (Lei do Software).
No Brasil estávamos em plena reserva de mercado da informática. Em apertada síntese, a reserva visava proteger o incipiente mercado nacional, criando restrições para a importação, fabricação e/ou comercialização de computadores e softwares estrangeiros. Fabricantes nacionais “clonavam” os microcomputadores gringos, como o TRS-80, Apple II, Sinclair, copiando a plataforma dessas máquinas ou utilizando engenharia reversa, mas com uma defasagem muito grande do que era novidade lá fora.
A então Apple Computers Inc, de Steve Jobs, tolerava (em parte) que fossem feitos clones de seus Apples II (primeiro microcomputador de sucesso comercial no mundo) por empresas brasileiras como Microdigital, CCE, Dismac, até porque, para Jobs, o Apple II era um projeto que já tinha ficado para trás (sempre foi a paixão de Wosniak), sua visão estava focada no futuro (da Apple, para ele): Macintosh (Mac).
O Mac foi lançado no ano de 1984, numa campanha publicitária nunca antes vista. Para quem não sabe, o Macintosh foi o primeiro microcomputador de sucesso do mundo com interface gráfica e mouse (O Windows ainda não existia). O projeto anterior da Apple não havia vingado: LISA (nome da filha de Steve Jobs). O LISA nasceu a partir de uma visita de JOBS à Xerox, mas isso é outra história a ser contada.
Diferentemente do Apple II, o Mac foi projetado para dificultar a criação de clones e compatíveis.
Pois bem, uma empresa brasileira de nome UNITRON fez um feito que se tornou uma lenda geek: DESENVOLVEU NO ANO DE 1985 O PRIMEIRO CLONE DE UM MACINTOSH NO MUNDO !!! E é exatamente o micro das fotos que passou a fazer parte do meu acervo !!!
Ocorre que esse feito gerou uma guerra comercial entre o Brasil e os Estados Unidos: a Apple de Steve Jobs utilizou de sua influência junto ao governo norte-americano para que pressionasse o governo brasileiro a não aprovar o projeto da UNITRON, alegando se tratar de uma cópia pirata que violava seus direitos autorais e patentes. O governo norte-americano ameaçou retaliar o Brasil nas relações comerciais, impondo barreiras para os nossos produtos de exportação, como a laranja. Resultado: a UNITRON teve que abandonar o projeto.
A Edição Especial da Revista Veja: “O Ano de 1988″, trouxe a notícia: “Conin proíbe venda de computador Unitron”. “Conin” era o Conselho Nacional de Informática e Automação de nosso país, instância máxima na qual o pedido de aprovação do Unitron Mac 512 foi parar em sede de recurso, após seu indeferimento definitivo pela Secretaria Especial de Informática (SEI), órgão este subordinado ao Conin.
Algumas unidades do Unitron Mac 512 chegaram a ser comercializadas no Brasil, mesmo sem o projeto ter sido aprovado pela SEI. Reza a lenda que foram feitos 200 (duzentos) micros, mas não se sabe ao certo. Um deles passou a integrar minha coleção de computadores antigos (micros clássicos).
Numa das principais listas brasileira de discussão sobre micros clássicos (AppleII_br), foi possível identificar a existência de 7 (sete) exemplares do Unitron Mac 512 no Brasil, incluindo o meu (série número: 60085, ou seja, 85), e segundo informações de um dos usuários da lista que possui um desses exemplares desde o ano de 1987: “computadores completos devem ter sido menos de 50, e eu não duvidaria de um número mais próximos dos 30″.
Verdade é que nenhum desses exemplares encontrados têm número de série acima de 100 (cem).
O colecionador Marcos Velasco é proprietário de dois exemplares dos 7 (sete) acima citados, e segundo informações dele foram produzidos apenas 16 (dezesseis) unidades do Unitron Mac 512.
Trata-se de um microcomputador raríssimo, talvez o mais raro do Brasil e um dos mais raros do mundo.
Também reza a lenda que Steve Jobs ficou furioso com o episódio e é fato verídico que na Apple foi fincada uma bandeira pirata ao lado de uma unidade do Mac da Unitron, adquirido pela maçã para feitura do laudo que comprovaria a cópia da ROM do Apple Macintosh 512. Sobre isto, Rainer Brockerhoff, que trabalhou no projeto da ROM do Unitron Mac 512, disse, em entrevista, que provavelmente a Apple havia pego um protótipo do micro nacional, ainda com a ROM do próprio Mac original.
Algumas referências sobre o Unitron Mac 512 encontradas na internet:
Blog do Chester: http://chester.me/mac512-html
Instituto de Economia – UFRJ:http://www.ie.ufrj.br/desenvolvimento/pdfs/novos_espacos_de_possibilidade_para_a_inovacao_tecnologica.pdf
LowEndMac: http://lowendmac.com/clones/unitron.html
MacMagazine: http://macmagazine.com.br/2009/05/30/entrevista-rainer-brockerhoff-fala-sobre-o-projeto-do-macintosh-brasileiro/
Merlintec: http://www.merlintec.com/lsi/mac512.html
Old-Computers.com: http://www.old-computers.com/museum/computer.asp?c=997&st=1
Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Unitron_Mac_512
Note que quando a Apple tomou conhecimento do Mac 512 da Unitron, o Jobs já tinha saído da empresa.
É verdade Jecel, essa parte da história é fantasiosa, li em algum lugar. Bastava lembrar que Jobs saiu da Apple no ano de 1985 e retornou oficialmente em 1997, porém se Jobs não ficou furioso, muitos na Apple devem ter ficado. Abraços, Rodrigo – evoltecno
Lembro-me de ter visto um exemplar desse micro em exposição em uma loja na esquina da Av. Cidade Jardim com a Av. Faria Lima em São Paulo, no ano de 1988, poucos meses antes do anúncio de que o equipamento não iria mais ser vendido. Foi uma ducha de água fria na indústria nacional porque esse Unitron foi uma grande conquista da engenharia brasileira.
Tenho a versão 1.1 nr. de série c- 70067
Save Retro Computing !
Trabalhei no laboratório do Curso de Pós-Graduação em Ciências de Computação da UFRGS (atual Instituto de Informática) entre os anos de 1990 e 1992. Havia dois desses micros lá.
De certa forma isso era comum na época. As empresas “fabricantes” de computadores se aproveitavam da reserva de mercado e vendiam ao consumidor brasileiro computadores pirateados a peso de ouro, tudo graças ao governo Figueiredo com a ridícula lei 7.232/84. Coisa de Brasil mesmo. Infelizmente tenho que reconhecer que foi só graças a isso que a gente ainda conseguia ter computador. Eu mesmo ganhei meu primeiro TK85 exatamente nesse período e graças à sem-vergonhice da Microdigital que copiou o Timex Sinclair 1500 na cara dura.